Comunistas e Militares no Araguaia #115
Em 1970, cerca de 89 guerrilheiros foram perseguidos na Amazônia pelo exército brasileiro em um processo que levou 4 anos e envolveu mais de 10 mil soldados.
Mais da metade das vítimas da Ditadura no Brasil estiveram envolvidos nesse episódio: a Guerrilha do Araguaia.
Entretanto, a maioria das vítimas foram camponeses e agricultores vitimados pelas torturas dos militares, sob a simples suspeita de ajudar os guerrilheiros.
Suas propriedades foram confiscadas e destruídas, para tornarem-se bases de operações do exército.
Nesse ano de 2024, completa-se 50 anos desde que a Guerrilha do Araguaia acabou, mas as suas cicatrizes são visíveis:
hoje, muitos moradores das cidades de São Geraldo, São Domingos, Marabá no Pará e Xambioá no Tocantins têm receio em falar sobre a Guerrilha.
Esse medo tem fundamento: em 2001, foi confirmado que o exército, junto com a ABIN, agência brasileira de inteligência, estava espionando a população clandestinamente, intimidando muitos a darem testemunhos falsos para pesquisadores quando lhes perguntavam sobre a guerrilha.
Até hoje, diversos familiares não receberam nenhuma pista do governo do que aconteceu com seus filhos, filhas, maridos e esposas assassinados pelo exército, muito menos indenizações de suas propriedades destruídas.
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Fontes (2):
1: Guerrilha do Araguaia: A Esquerda em Armas – Romualdo Pessoa Campos Filho.
2: Guerrilha do Araguaia: a dívida histórica com os mortos e os desaparecidos políticos
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Dicas Culturais (9):
1: As faces e os cenários da Guerrilha do Araguaia
A fotógrafa e professora da PUC de Goiás e da Faculdade Cambury Mariana Capeletti passou oito meses pesquisando sobre a Guerrilha do Araguaia e em 2017 foi pessoalmente realizar um projeto de fotografia na região. No início, ela comentou que teve muitas dificuldades, com muita gente com medo de falar e aceitar ser fotografada. Relembrando: 2017.
Devagar, ela foi convencendo suas fontes a dar seus depoimentos e a posar para sua lente. Mais tarde, ela retornou, visitando também localidades no sul do Pará, como as cidades de São Geraldo, São Domingos do Araguaia e Marabá.
Mariana esteve em muitos dos pontos onde a Guerrilha do Araguaia aconteceu, locais em que houve torturas e combates e lugares onde Suas fotos, de alguns moradores da região e de suas casas concorreram e venceram o 13º Festival Internacional de Fotografia de Paraty.
Nas fotos da Mariana, você vê, os rostos dos camponeses de Araguaia e as suas residências
2: Marighella
Polêmico filme que foi lançado em 2019, e que na época de seu lançamento sofreu bastante protesto por parte de algumas correntes políticas brasileiras mais da direita. Bem, como o nome do filme deixa óbvio, é a biografia do Carlos Marighella, interpretado pelo Seu Jorge, um cara que, junto com ativistas bem mais jovens que ele, tenta ajudar a organizar uma resistência armada contra a ditadura militar brasileira, e nesse processo, alem de arranjar treta com a esposa e claro, acabou se tornando uma figura influente, mas perseguido pelos aparelhos do estado ditatorial.
3: Hércules 56
Documentário de 2006, dirigido por Sílvio Da-Rin. O nome do filme se refere à matrícula do avião militar que transportou para o exílio os presos políticos trocados pelo embaixador norte-americano, sequestrado por organizações de extrema-esquerda, em 4 de setembro de 1969. Integrantes da Aliança Libertadora Nacional (ALN) e do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8) tinham sequestrado no Rio de Janeiro o embaixador dos Estados Unidos, Charles Elbrick, em troca da libertação de 15 presos políticos. Os presos libertados foram levados para o México num avião da FAB, o Hércules 56. De maneira a relembrar o episódio, o documentário reúne quase 40 anos depois alguns dos sobreviventes da ação, para discutir a luta armada da época, suas causas e consequências.
4: Zuzu Angel
Filme de 2006, conta a jornada excruciante da estilista Zuzu Angel para tentar encontrar e resgatar seu filho, Stuart Jones, que era estudante de economia e passou a integrar organizações clandestinas que combatiam a ditadura militar. Quando o menino some, a Zuzu, que antes não se metia em política, entraria em uma verdadeira guerra contra o regime, fazendo de tudo pela recuperação do corpo de seu filho, envolvendo até os Estados Unidos, país de seu ex-marido e pai de Stuart. A busca de Zuzu pelas explicações, pelos culpados e pelo corpo do filho só terminou com sua morte, ocorrida na madrugada de 14 de abril de 1976, num acidente de carro na Estrada da Gávea, acidente esse armado por agentes da ditadura militar. É um filme lindo, desesperador, de rasgar o coração, mas coloca a gente em contato com o que é a experiência daqueles que desesperadamente buscavam respostas, pistas do paradeiro de mães, pais, filhos, irmãos que sumiram nas mãos da ditadura.
5: Em busca de Lara
Lançada em 2014, este documentário relata a trajetória excepcional de Iara Iavelberg, uma psicóloga e guerrilheira brasileira que foi integrante da luta armada contra a ditadura militar. Através da pesquisa de documentos, entrevistas e filmes de arquivo, o documentário tenta reconstruiur a vida de Iara desmentir a versão oficial do motivo da morte dela, que foi dada como suicídio, mas a gente sabe que quando você era preso pelos militares, não era bem suicidio que te matava. É até interessante que o roteiro do filme foi escrito por sua sobrinha, a Mariana Pamplona, então ele tem essa coisa de ser uma jornada particular de redescobertas e revelação sobre uma pessoa que o governo militar queria que fosse apagada.