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Os Movimentos de Ódio nos EUA – Parte 1 #102

Hoje, existem cerca de 1221 grupos paramilitares supremacistas nos Estados Unidos; movimentos de ódio fundados principalmente por veteranos de guerra.

Devido a estresse pós-traumático e dificuldade para se reinserir na sociedade, diversos homens brancos ao retornar para casa mesclam suas visões militaristas e políticas.

Isso os leva a fundarem grupos paramilitares de direita, um costume recorrente nos EUA há mais de séculos. Por exemplo, em 1865, após a Guerra Civil Americana, o general confederado Nathan Bedford Forrest, voltou para sua casa no Tennessee e fundou a Klu Klux Klan.

Isso também aconteceu após a Segunda Guerra Mundial, quando o piloto George Rockwell voltou para os EUA e fundou o partido Nazista Americano.

Da mesma forma, após retornar da Guerra do Vietnã na, década de 1970, Louis Beam reformulou a Klu Klux Klan, criando o conceito de células independentes e membros que atuassem como “Lobos Solitários”.

Antes do 11 de setembro de 2001 o maior atentado terrorista dos EUA foi feito dessa forma em 1995: um veterano da Guerra da Golfo, Timothy McVeigh, detonou sozinho uma bomba em Oklahoma City, matando 168 pessoas.

No século 21, as guerras no Iraque e Afeganistão igualmente radicalizaram uma geração de veteranos, responsáveis por fundar uma série de grupos supremacistas e neonazistas.

Como exemplo, o fundador do grupo neonazista “Atomwaffen”, Brandon Russell, é veterano da guerra do Iraque, enquanto o fundador do grupo neonazista “A Base”, Rinaldo Nazzaro, trabalhou no serviço de inteligência dos EUA no Iraque e no Afeganistão.

Embora fundado por ex-militares, a maioria dos integrantes dos grupos são jovens solitários sem treinamento militar, que descobriram a existência das organizações em redes sociais, sites de notícias ou por influencers de extrema-direita.

Entretanto, a prioridade dos grupos de ódio são sempre recrutar membros com instruções bélicas: O aplicativo do grupo neonazista “A Base” tinha um questionário para saber se o recruta tinha conhecimento com explosivos, engenharia reversa e combate militar.

Através de assassinatos e atentados à bomba, os principais alvos das organizações são mesquitas, igrejas afro-americanas, assim como espaços de congregação de imigrantes e integrantes de esquerda, como boates, parques ou manifestações.

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Fontes:

Livros: – The Second Coming of the KKK: The Ku Klux Klan of the 1920s and the American Political Tradition, de Linda Gordon.

– Blood in the Face: The Ku Klux Klan, Aryan Nations, Nazi Skinheads, and the Rise of a New White Culture, de James Ridgeway.

– Blood in the Face (revised new edition): White Nationalism from the Birth of a Nation to the Age of Trump, de James Ridgeway.

– White Evangelical Racism: The Politics of Morality in America, de Anthea Butler.

— Hooded Americanism: The History of the Ku Klux Klan, de David M. Chalmers.

– O Xerife Negro: No Tribunal da Ku Klux Klan, de J. Aphonso

– KLAN: Killing America: The original stories of the Ku Klux Klan, de Ken Rossignol

– Infiltrado na Klan: Desmascarando o ódio, de Ron Stallworth, uma história real que inspirou o filme.

Sites: – JACKBOOTS, WHITE HOODS, AND THE WHITE BIBLE: THE FUSION OF THE KKK, AMERICAN NAZIS, AND CHRISTIAN IDENTITY, de Joseph Wood.

https://ninercommons.charlotte.edu/islandora/object/etd%3A2359/datastream/PDF/download/citation.pdf

– Ruby Ridge – documentário da American Experience, da PBS

– Crimes of the Century – Waco

https://www.vice.com/en/article/v7g9kb/how-one-man-built-a-neo-nazi-insurgency-in-trumps-america

– The Base

https://www.counterextremism.com/supremacy/base

– The Ku Klux Klan in the Heartland

https://www.cbsnews.com/pictures/the-kkk-today/29/

Nathan BedFord Forrest:

https://fox17.com/news/local/bust-of-kkk-leader-nathan-bedford-forrest-removed-from-tennessee-capitol-confederate

Proud Boys: https://www.start.umd.edu/sites/default/files/publications/local_attachments/Proud%20Boy%20Crimes%20and%20Characteristics%20January%202022%20FINAL.pdf

https://cisac.fsi.stanford.edu/mappingmilitants/profiles/proud-boys
https://www.vice.com/en/article/wxd57x/neo-nazis-who-plotted-to-kill-antifa-activist-sentenced-to-prison
https://www.vice.com/en/article/epvxqw/enrique-tarrio-proud-boys-jury

The Oath Keepers: https://www.adl.org/sites/default/files/documents/assets/pdf/combating-hate/The-Oath-Keepers-ADL-Report.pdf

https://www.splcenter.org/fighting-hate/extremist-files/group/oath-keepers
https://www.start.umd.edu/publication/three-percenters-look-inside-anti-government-militia

Atentado de Oklahoma City

https://metaldevastationradio.com/last-podcast-on-the-left/youtube/34316/episode-274-oklahoma-city-part-i-the-day

Veteranos de Guerra e Milícias: https://www.splcenter.org/hatewatch/2021/10/12/extremism-among-active-duty-military-and-veterans-remains-clear-and-present-danger

https://www.scientificamerican.com/article/citizen-militias-in-the-u-s-are-moving-toward-more-violent-extremism/
https://www.vice.com/en/article/3aqwq5/marines-neo-nazis-military
https://www.vice.com/en/article/n7vnpb/the-birth-of-the-base-nazi-terror-group

Indicações Culturais

Green Room, de 2015, um filme ficcional, mas que tangencia a realidade, onde muitos desses grupos neonazistas mantém células e centros de reunião em áreas rurais. Na história do filme, os integrantes de uma banda vão tocar em um bar, no meio do nada, e descobrem que aquele é um bar de neo-nazistas. Ao testemunhar um assassinato no local, eles tem que lutar para sobreviver, presos dentro da casa de shows.

De sugestão tem o filme _Marshall_, de 2017, estrelado por Chadwick Boseman, o ator do pantera negra, que nesse filme ele interpreta o então advogado da NAACP, o Thurgood Marshall, em um de seus casos mais famosos, justo na época da segunda Klan. Ele vai se tornar, anos depois, o primeiro juiz afro-americano da suprema corte dos EUA.

The Making of a Boogaloo Boi, um documentário de 11 minutos que mostra a história de uma pequena milícia local, do estado da Virgínia, que se une ao movimento dos bogaloos, depois que a legislação estadual em relação ao controle de armas é alterada.

Documenting Hate: Charlottesville, um documentário da série de reportagens FRONTLINE sobre o movimento supremacista branco no EUA. O trabalho de investigação da FRONTLINE e da ProPublica resultaram nessa denúncia que mostra como os supremacistas brancos e neonazistas estavam envolvidos no comício de Charlottesville, o evento Unite the Right, de 2017 – e revelam o quanto a polícia e o governo estavam mal preparados para lidar com um influxo de supremacistas brancos de todo o país indo para lá. Frontline é um programa de TV da PBS, ou seja, tem um selo de qualidade e excelência, e por isso até eu estou aqui recomendando esse doc para quem quer estudar mais sobre o tema. O documentário está inteiro no site da PBS, e o link a gente vai publicar na postagem do episódio.

“The KKK vs. the Crips vs. Memphis City Council”, documentário de 2013, produzido pela Vice, que conta uma confusão local, em uma pequena região dos EUA, que parece quase como um prelúdio do que viria acontecer em todo o país em anos seguintes. No Forrest Park, na cidade de Memphis, há uma estátua de Nathan Bedford Forrest, um dos racistas mais infames e poderosos da história americana: O fundador da primeira Klan. No incio da década de 2010, o local acabou virando o centro dos conflitos sociais da cidade, envolvendo a KKK, as brigas com o governo, e a presença de membros de uma gangue local que têm algumas ideias bem legais sobre o que fazer com os caras da Klan.https://www.youtube.com/watch?v=I4DpPhKtwWg

“Why I, as a black man, attend KKK rallies”, uma palestra da TED talks onde a gente ouve sobre a experiência de vida de um cara chamado Daryl Davis, um músico que usando empatia e conversa, sim, muita vezes apenas uma conversa honesta, passou a vida tentando resgatar pessoas e tirar elas da Klan. Ele fez tantas pessoas renegarem a organização, que ele tem uma coleção de uniformes da KKK, dados a ele por pessoas que ele conseguiu fazer renegarem o racismo e a bolha de alienação que é a Klan.

Da série de reportagens “Documenting Hate”, temos o documentário “Documenting Hate: New American Nazis”, um filme de 2018 que explica como grupos nazistas estadunidenses estão proativamente recrutando membros das forças armadas dos EUA. Você encontra o filme inteiro no youtube.

Tem no youtube um documentário de 2018 chamado “Who are the Proud Boys?”, produzido pelo programa de TV SBS Dateline, que mostra as dinâmicas sociais, os laços de amizade e laços ideológicos que fazem parte dos vários clubes que compõem a organização Proud Boys, que segundo eles próprios, é um grupo de homens que dizem estar defendendo uma nova classe oprimida, uma nova minoria: o jovem homem solitário, maltratado pela pressão da sociedade moderna.

Tem uma série de TV chamada “America’s Book of Secrets”, ou, livro de segredos da américa, uma série documental dirigida pelo maravilhoso Ken Burns, o responsável por alguns dos melhores documentários sobre a história dos EUA. Em um dos episódios dessa série, chamado “American Nazis”, nos é mostrado que existiam, por volta de 2013, cerca de 200 grupos neonazistas operando nos Estados Unidos, grupos que eram fortemente aliados e que faziam parte de uma rede de vários outros grupos de ódio e de supremacistas brancos, organizando eventos e promovendo recrutamento de novos membros, especialmente jovens, usando a internet.

White Right: Meeting the Enemy (2017), é um documentário filmado no momento certo, bem no periodo onde estava crescente o numero de grupos de supremacia branca. A diretora do filme, Deeyah Khan, ela estava inclusive filmando o comício de Charlottesville, onde rolou o evento da Unite the Rigth e a manifestante antifascista Heather Heyer foi morta. Ao entrevistar supremacistas brancos, a diretora é franca sobre sua identidade muçulmana e sobre o fato dela ser de esquerda, mas, em vez de envolver os homens entrevistados em debates ideológicos acalorados, ela se concentra em estudar, entender as suas emoções, e assim, faz uma análise de como seus sistemas de crenças estão relacionados com suas relações sociais, e como isso os afeta pessoalmente.

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