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Quando a Klan treinou Nazistas #101

A quantidade de milícias neonazistas nos EUA cresceu exponencialmente a partir de 1950.

Por que?

Em parte, porque a Klu Klux Klan se deu muito bem com o nazismo.

Após a 2º Guerra Mundial, a Klan, presente na maioria dos estados dos EUA, financiou e treinou uma série de neonazistas por todo a país.

Diferente da Alemanha e até mesmo no Brasil, ser nazista nos Estados Unidos não era (e não é) um crime.

Por isso, em 1959, George Lincoln Rockwell formou o Partido Nazista Americano.

Curiosamente, diversos veteranos da 2º Guerra filiaram-se ao partido, influenciando o surgimento de outras organizações de supremacistas brancos.

Os grupos utilizavam a Primeira Emenda do país – que garante o direito à liberdade de expressão – e a Segunda Emenda – que garante o direito à porte de armas – como respaldo para existirem.

Através de contato com ex-militares ou policiais, as milícias supremacistas obtiveram acesso à metralhadoras semiautomáticas, explosivos e minas terrestres.

Através de atentados com carros-bomba e missões suicidas, os grupos supremacistas tinham a intenção de assassinar “traidores da pátria” e fazer uma “limpa” na sociedade.

Eles tinham seus próprios jornais, canais de rádio e livros, que serviam de base ideológica para mobilizar outros possíveis membros.

Entre algumas de suas ideias, os grupos pautavam a criação de um estado supremacista branco no noroeste do país, onde nenhuma pessoa não-branca, judeu ou gay poderia morar.

As ideias de tais organizações foram impressas em diversos livros, que tornaram-se um “guia” para diversos outros líderes de guerrilhas de extrema-direita na década de 1960 e 1970.

Um dos mais influentes foi o livro “Diários de Turner” dizia que afro-americanos, gays, judeus e comunistas estavam infiltrados no governo dos EUA preparavam-se para iniciar um “governo mundial”

Por isso – de acordo com o livro – era de suma importância que homens brancos deviam unir-se em grupos armados, para impedir que os EUA fossem dominados por “raças-impuras”.

Entre as décadas de 1960-1990, o livro “os Diários de Turner” foram citados como inspiração em pelo menos 40 ataques terroristas, homicídios e crimes de ódio.

Após a Guerra do Vietnã, novos veteranos integraram nas milícias, responsáveis por torná-las mais perigosas e destrutivas.

Em 1997, o governo dos EUA identificou cerca de 380 diferentes milícias com acesso à armas de guerra e outros 478 grupos patriotas que eram uma possível ameaça nacional.

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Dicas Culturais:

– Oz, uma série de TV lançada entre 1997 e 2003, que mostra o dia-a-dia violento de dentro de uma prisão com detentos que tem sérios problemas psiquiátricos e que ao mesmo tempo fazem parte de grupos ideológicos bastante complicados, incluindo um grupo de supremacistas brancos extremamente violentos, que não são diferentes dos que você ainda encontra por aí.

– Watchmen, série lançada em 2019 após os eventos da graphic novel de 1985. Em Tulsa, Oklahoma – uma cidade bastante afetada por segregação e violência racial – uma investigadora tem que lidar com um grupo de vigilantes mascarados que pretendem fundar um grupo supremacista branco no sul dos EUA. Personagens históricos como Dr. Manhattan e Ozymandias voltam a aparecer.

– Black Legion, de 1937, um caso raro de um filme da primeira metade do século XX que critica e denuncia os crimes da Klan. Nesse filme baseado em filmes reais, o Humphrey Bogart interpreta um operário de fábrica que se junta à chamada Legião Negra, depois que um imigrante consegue uma promoção ao invés dele. E

– Judas e o Messias Negro, filme de 2021, que também conta a história real de um infiltrado, agora nos panteras negras. Com a oferta de um acordo judicial do FBI, William O’Neal, um jovem ativista preto, se infiltra no grupo dos Panteras Negras do estado de Illinois, para reunir informações sobre o presidente da organização, Fred Hampton. Essas ações, em parte, resultariam no assassinato de Fred Hampton em 1966, um caso até hoje mal explicado, e que teve um envolvimento bastante criminoso das autoridades policiais. – citar que no filme aparecem as ações do COINTELPRO.

– Skin, filme de 2018, conta a vida de um jovem carente, de cabeça fraca, criado por skinheads racistas e notório entre os supremacistas brancos, que em determinado momento da vida faz um 180 graus, e dá as costas ao ódio e à violência, para transformar sua vida em algo diferente, com a ajuda de um ativista negro e da mulher que ele ama.

– Feels Good Man, documentário de 2020, onde a gente entende a história por trás do surgimento do sapo Pepe, criado pelo cartunista Matt Furie, personagem que caiu no gosto da internet e que além de virar base para todo o tipo de meme, em determinado momento, se tornou um dos símbolos de supremacistas brancos e racistas, pra fazer piada com todo tipo de coisa na internet.

– A Outra História Americana, American History X (1998), filme excelente com o Edward Norton e o Edward Furlong, respectivamente, o cara do clube da luta e o guri do Exterminador do Futuro 2. Esse filme mostra a jornada de um jovem que cresce dentro de um grupo de neo-nazistas, comete um crime horroroso contra um afro americano, e na cadeia, convivendo com os nazistas casca grossa de lá dentro, ele aprende algumas verdades pesadas sobre aquele ambiente de ódio que ele acreditava ser todo o seu mundo.

Saindo da cadeia, reformado, ele agora tem que lidar com o fato que ele foi a influencia principal na vida de seu irmão mais novo, que agora também é um neo-nazista, e nosso protagonista faz de sua missão tentar tirar sua familia de dentro daquele mundo bizzarro das organizações nazi-facistas.

– Judaism and Whiteness in Wolfenstein, um vídeo do canal Jacob Geller, onde ele explica as complexidades culturais por trás dos exelentes jogos mais recentes da franquia Wolfenstein.

– O Circo, um melodrama que mostra o preconceito que a dançarina de vaudeville, Marion Dixon, enfrenta nos EUA depois de ter um filho com um homen negro. Depois de sofrer muito nas mãos de um produtor alemão, ela acaba fugindo pra união soviética em busca de uma vida menos sofrida : https://youtu.be/FVAN0A6OWE4

– American Terror: The Military’s Problem With Extremism in the Ranks

Um documentário curto da Vice, que explica o problema sério, e que não é recente, da presença de supremacistas brancos que se radicalizam dentro das forças armadas estadunidenses, ou, de supremacistas brancos que são ex-militares e são cooptados por organizações ultranacionalistas exatamente por que esses caras tem habilidade de combate, habilidades essas que eles acabam ensinando para outros colegas desses grupos racistas, grupos que são hoje considerados organizações terroristas e são monitorados pelo FBI.

Fontes

Livros: -The Second Coming of the KKK: The Ku Klux Klan of the 1920s and the American Political Tradition, de Linda Gordon.

– Blood in the Face: The Ku Klux Klan, Aryan Nations, Nazi Skinheads, and the Rise of a New White Culture, de James Ridgeway.

– Blood in the Face (revised new edition): White Nationalism from the Birth of a Nation to the Age of Trump, de James Ridgeway.

– White Evangelical Racism: The Politics of Morality in America, de Anthea Butler.

– Hooded Americanism: The History of the Ku Klux Klan, de David M. Chalmers.

– O Xerife Negro: No Tribunal da Ku Klux Klan, de J. Aphonso

– KLAN: Killing America: The original stories of the Ku Klux Klan, de Ken Rossignol

PDFs e documentários:

– Atentado de Oklahoma City

https://metaldevastationradio.com/last-podcast-on-the-left/youtube/34316/episode-274-oklahoma-city-part-i-the-day

– JACKBOOTS, WHITE HOODS, AND THE WHITE BIBLE: THE FUSION OF THE KKK, AMERICAN NAZIS, AND CHRISTIAN IDENTITY, de Joseph Wood.

https://ninercommons.charlotte.edu/islandora/object/etd%3A2359/datastream/PDF/download/citation.pdf

– Ruby Ridge – documentário da American Experience, da PBS

– Crimes of the Century – Waco

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